Sem preconceito O diagnóstico de esquizofrenia pode vir acompanhado de culpa e vergonha. Mas o apoio de parentes e amigos pode ajudar na aceitação e no tratamento da doença. O psiquiatra Mário Louzã Neto dá preciosas dicas de como conviver com a doença
POR YARA ACHÔA
A esquizofrenia não afeta a inteligência, não é fruto de uma criação errada por parte dos pais, nem um distúrbio de dupla personalidade. As pessoas que sofrem do mal não são perigosas ou violentas, nem tão pouco preguiçosas — e elas podem, sim, ter vida produtiva. “No imaginário popular, esse tipo de paciente pode estar sentado ao seu lado, talvez no ônibus ou no metrô, e de repente te esfaquear, sem motivo algum. Idéias como essa se alimentam do desconhecimento sobre o assunto, que se alia ao preconceito e à fantasia”, diz o médico Mário Rodrigues Louzã Neto, coordenador do Projeto Esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, que acaba de lançar o livro Convivendo com a Esquizofrenia — Um Guia para Portadores e Familiares (Prestígio Editorial).
A doença — classificada como transtorno mental, em geral crônico — começa a dar sinais na faixa que compreende o fim da adolescência e o início da vida adulta. E, sendo doença, é importante não se ter preconceito para procurar ajuda — no caso um psiquiatra — o mais cedo possível. Mas culpa e vergonha estão entre os sentimentos que rondam a família que recebe esse diagnóstico, o que costuma adiar o início do tratamento em cerca de dois anos. “Os pais tendem a se sentir responsáveis e muitos resistem a admitir a presença de um esquizofrênico na família. As razões para isso são, sobretudo, de ordem cultural e se somam ao desconhecimento acerca do funcionamento do organismo, especialmente do cérebro e seu produto mais sofisticado: a mente humana”, constata o especialista Mário Louzã.
Apesar dos avanços terapêuticos em relação à doença, ainda há muito o que fazer, pois muitas das internações e reinternações poderiam ser evi tadas se os tratamentos fossem se guidos regularmente. O medicamento, sem dúvida, é fundamental para controlar e evitar recaídas da enfermidade. Porém, é o tratamento psicossocial que vai contribuir pa ra a reabilitação e um prognóstico melhor. No entanto, o psiquiatra do Hospital das Clínicas reforça que a sociedade como um todo precisa se conscientizar da necessidade de encarar os indivíduos com transtornos mentais graves, entre eles os portadores de esquizofrenia, como ‘portadores de necessidades especiais’ tanto quanto os portadores de deficiência física e, portanto, com os mesmos direitos oferecidos pela legislação.
Levando em consideração que o mal atinge aproximadamente 1,8 milhão de brasileiros e que em volta de cada um deles deve haver uma mãe e um pai preocupados, parentes surpresos, amigos perplexos, enfim, um grande número de pessoas envolvido de algum modo com o transtorno, é preciso se mobilizar. “O papel da família é fundamental, pois o paciente com esquizofrenia, em geral, não tem percepção de que tudo o que está acontecendo com ele decorre de uma doença”, avalia o médico Mário Louzã Neto. Em seu livro, inclusive, além de esclarecer as principais dúvidas a respeito do tema, o especialista sugere importantes ações, como as que você confere a seguir.
PRINCIPAIS SINTOMAS
- Delírios
- Desorganização do pensamento
- Alucinações
- Perda da capacidade de reagir afetivamente
- Retraimento social e diminuição da motivação
- Tristeza, desesperança
- Idéias de ruína e de suicídio
- Dificuldade de memória e de concentração
- Dificuldade de planejamento e abstração
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Como a família pode ajudar
1. Fique atento a suas atitudes. Se você tem preconceitos em relação à doença e à pessoa, como vai lidar com a situação? Como esperar que os outros reajam sem preconceitos? Livre-se deles!
2. Participe do tratamento e colabore com o paciente. Converse com o médico, esclareça suas dúvidas e busque informações sobre a doença.
3. Trocar experiências com outras pessoas pode ajudar bastante. Procure participar de associações de portadores ou familiares.
4. Tente enfrentar as diversas situações com tranqüilidade. Mantendo a calma e a firmeza é possível estabelecer um diálogo franco e produtivo.
5. Não critique ou ridicularize o paciente. Diante de suas atitudes esquisitas ou de sua apatia, lembre-se que são sintomas da doença e não ‘frescura’ ou ‘preguiça’. Críticas freqüentes só tendem a estressar mais.
6. Evite ser superprotetor, pois o paciente vai perdendo a iniciativa, uma vez que você se antecipa e faz tudo por ele. Encontre um equilíbrio.
7. Busque adaptar suas expectativas à realidade das condições físicas e emocionais do portador de esquizofrenia. A recuperação da doença é lenta. Expectativas elevadas geram frustrações e pioram a auto-estima.
8. O esforço e a dedicação enormes para auxiliar o portador nem sempre são recompensados em igual medida. Os sentimentos negativos (frustração, raiva, vergonha, entre outros) vêm à tona. É preciso estar preparado para lidar com os próprios sentimentos.
9. O portador de esquizofrenia se beneficia de um ambiente estruturado e organizado. Auxilie-o a criar rotinas para o dia-a-dia.
10. Reserve um tempo para cuidar de si, dedicar-se a suas atividades de lazer. Se você não estiver bem, não terá disposição para cuidar do outro.
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